Autonomias

Viva,

Uma das questões que mais me colocam sobre os nossos veículos elétricos e todos os veículos elétricos em geral é relacionada com a "Autonomia": "quantos km é que isso faz?", sendo a resposta mais normal: "Só? Não dá para mim". Sim, concordo que os veículos elétricos não são uma opção para toda a gente, mas são-o para muitos mais do que pensam. É certo que, na minha opinião, ainda não são adequados para grandes deslocações, sobretudo por culpa da falta de fiabilidade da rede de abastecimento e do número insuficiente de postos de carregamento rápido, mas, tirando esse pormenor, são adequados para tudo o resto. Já agora, também não me parece que faça grande sentido comprar um veículo, seja ele qual for, a pensar no uso que o mesmo vai ter uma vez por ano nas férias, verificando-se depois uma clara discrepância entre o mesmo e a sua utilização no dia-a-dia ... principalmente nos dias de hoje com tantas soluções de mobilidade (várias marcas já apresentam soluções que permitem "trocar" de veículo em determinadas alturas do ano como, por exemplo, a Hyundai) ou com a facilidade com que se aluga um.

Pequeno trocadilho da GR com um DIY de volta da ansiedade relacionada com a autonomia.

Mas voltando ao tema, a Autonomia nos veículos elétricos é uma espécie de ciência oculta. Na realidade esta varia, tal como nos veículos de combustão interna, consoante a pressão associada ao pé direito, mas também varia (de forma bastante notória) em função de muitos outros fatores como:
  • Temperatura ambiente, especialmente abaixo dos 10ºC ou acima dos 20ºC;
  • Velocidades elevadas (acima dos 100 km/h), mesmo que estáveis;
  • Autoestradas com largos troços non-stop;
  • Subidas íngremes (embora parte possa ser compensada caso tenha sido antecedida ou preceda duma descida);
  • Peso adicional (como 4 pessoas em vez de uma no interior do veículo);
  • Dispositivos elétricos adicionais (ar condicionado, aquecimento, vidros elétricos, bancos elétricos, etc), normalmente associados ao conforto a bordo;
  • Entre outros cujo o impacto já não é tão significativo.
Tudo isto torna a conversa de volta da Autonomia bastante subjetiva e os anúncios da mesma de todas as marcas ainda mais difícil de conseguir ou compreender que os consumos, também anunciados, para os veículos com motores de combustão interna. Vejamos a seguinte tabela (fonte: PUSHEVS):

Autonomia
Anunciada a 50 km/h a 100 km/h a 120 km/h
Renault Zoe R90 jante 15"  300 km 386 km 199 km 172 km
Renault Zoe R90 jante 16" 300 km 382 km 196 km 170 km
Renault Zoe R90 jante 17" 300 km 361 km 185 km 159 km
Renault Zoe Q90 jante 15" 300 km 380 km 193 km 166 km
Renault Zoe Q90 jante 16" 300 km 376 km 191 km 164 km
Renault Zoe Q90 jante 17" 300 km 355 km 180 km 154 km
Hyundai IONIQ EV 250 km 351 km 175 km 155 km

O mesmo se passa com todos os outros veículos elétricos destas e de todas as outras marcas.

Mesmo assim, e seguindo a lógica do carregamento noturno deste tipo de veículos em casa, diria que as autonomias são suficientes para o dia-a-dia da grande maioria de nós. No nosso BMW i3 60Ah a 120 km/h conseguimos fazer cerca de 100 a 110 km e isso não nos impediu de fazer 5.000 km nos últimos dois meses. Ou seja, é muito mais uma questão de compreensão da mudança do paradigma e do mindset associado do que propriamente a falta de autonomia.

Um grande problema, que em nada contribui para a confiança da maioria das pessoas nestas novas soluções de mobilidade elétrica, está relacionada com o fato de a grande maioria dos vendedores de automóveis da grande maioria das marcas não "perceberem nada" sobre as características e particularidades do carro que estão a vender (na realidade muitos também não percebem dos veículos de combustão interna, mas nestes tudo se torna muito mais notório). Deixem-me apenas referir que já fiz um ensaio em que o vendedor me entregou o carro e disse, literalmente: "Está aqui, tem a chave lá dentro. Não me pergunte nada que eu não percebo nada disto" ...

Para fechar, não sei se o caminho será ou não o aumento constante da capacidade das baterias ou se não será melhor o ajuste da mesma as nossas reais necessidades: para que vou andar com um peso morto de baterias que me permitam fazer 600 km se, 95% das vezes, só preciso de 120 km? Não seria mais útil poder fazer um swap para essa capacidade só quando e enquanto precisasse da mesma? Julgo que ainda existe muito a pensar e a implementar neste domínio.

Não percam o próximo episódio que nós também não!

Ab,

RC

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